Mundo da Pesca - Quando é que se iniciou o projeto Byfish e
qual a relação que tem com o projeto Cormoura?
Jorge Moura – Este sonho iniciou-se em 2015. O meu pai
começou no mundo da pesca com o fabrico de alguns componentes e montagens de
canas, talvez daí tenha nascido o “bichinho” da indústria também para mim. A
Cormoura na altura era a única marca nacional que fabricava alguns produtos, e
porque não criar mesmo uma indústria de artigos de pesca muito mais completa?
Esta decisão foi muito ponderada, investir numa nova empresa, novas
instalações, maquinaria nova e toda a envolvente que uma fábrica exige era um
grande risco naquela altura, mas juntamente com as minhas irmãs e o nosso pai
decidimos avançar, aí nasceu a Byfish. Queríamos marcar pela diferença, por
isso avançá - mos com um projeto largo em termos de produção, ou seja, não nos
iríamos limitar apenas a um ou dois artigos, mas sim ao máximo de produtos
possíveis produzidos em Portugal. A Cormoura atualmente é um parceiro de
negócio, fabricamos todos os produtos com a sua marca e alguns são exclusivos.
Mundo da Pesca – Quais são os artigos que produzem
atualmente e que novidades pensam apresentar a breve trecho?
Jorge Moura – Atualmente fabricamos as tão conhecidas canas
do congro que já vinham do “know-how” do meu pai, uma linha de produção de
boias em todos os materiais: EVA, balsa, cortiça e ainda poliuretano;
possivelmente será das fábricas com mais qualidade da Europa. Produzimos também
uma grande diversidade de engodos/ cozidos/milhos e aditivos, uma coleção vasta
de chumbadas e alguns acessórios como camaroeiros, espetos, molas de engodo,
clips, passadores, zagaias, etc.. mas adoramos desafios. Neste momento estamos
a desenvolver uma necessidade de um cliente que nos propôs uma coleção de
enroladores em EVA de vários formatos, gostamos de criar e foi isso que
fizemos. Isto tudo que mencionei são produtos fabricados nas nossas
instalações, além disto temos uma parceria com uma fábrica nacional de
confeções onde produzimos imensos modelos de sacos e bolsas personalizados para
cada cliente. Mas a principal revolução será para breve, teremos uma linha de
produção de canas em carbono e bobinagem de fio.
Mundo da Pesca – Produção de canas em carbono, como surgiu
essa ideia?
Jorge Moura – Esta ideia já existia há algum tempo e foi a
principal causa para nascer esta nova empresa, em 2015 estávamos a fabricar as
canas do congro (em fibra de vidro) e decidimos fazer algumas experiências com
carbono. Encomendámos um rolo de carbono e iniciámos os primeiros testes.
Obviamente tivemos muitos obstáculos pela frente para obtermos algumas
matérias-primas (colas, desmoldantes, etc..) infelizmente em Portugal ninguém
trabalha com carbonos pré-impregnados, daí as nossas dificuldades. Depois de
ultrapassados vários problemas fizemos as primeiras amostras de canas, testámos,
demos a testar e o resultado final foi bastante satisfatório… Obviamente com a
maquinaria existente não poderíamos montar uma linha de produção. Com estas
experiências foi nós tudo feito mais artesanalmente. Então, juntamente com o
nosso consultor, a Byfish decidiu fazer uma candidatura ao Portugal 2020 no
âmbito da inovação. Felizmente o projeto foi aprovado e na realidade seremos a
única fábrica de canas na Península Ibérica e uma das pouquíssimas que existem
em toda a Europa. Neste ambicioso projeto foram incluídas diversas máquinas
para o fabrico completo de canas em todas as fases da sua construção.
Mundo da Pesca – A produção de canas “made in Portugal”
deve-se a mero orgulho patriótico ou por uma questão económica?
Jorge Moura – O patriótico ajuda mas não é a principal
razão. Na atualidade quase todas as fábricas de canas são na Ásia e como todos
sabemos os preços nos últimos anos subiram bastante juntando o preço dos
transportes, a demora na produção, as quantidades mínimas exigidas, sem falar
no pré-pagamento exigido meses antes da chegada, tudo isto somado inflaciona
imenso o preço final do produto. O nosso mercado é pequeno e por vezes obriga
as marcas a ter excesso de stock. A nossa ideia é inverter tudo isto, os nossos
clientes poderão ter canas exclusivas, com uma produção de qualidade, uma
entrega rápida e com quantidades mais ajustadas a cada mercado.
Mundo da Pesca – Assim sendo, que tipo de gama pensa a
Byfish produzir?
Jorge Moura – Obviamente a nossa mão-de-obra não é igual à
dos chineses mas não é das mais altas da Europa e é bastante qualificada, por
isso o nosso objetivo será produzir canas de gama média, e também alguns
modelos de gama alta. Temos de ser realistas e sabemos que não podemos combater
com os asiáticos a fabricar todo o tipo de canas, mas sabemos qual o caminho
que temos de percorrer e aproveitar todos os “nichos” de mercado. Somos nós que
podemos fazer “aquela” cana específica para “aquele” pesqueiro.
Mundo da Pesca – Qual é que acha que será a aceitação do
pescador português a canas de carbono “made in Portugal”?
Jorge Moura – Falando por mim, dou muito mais valor a
produtos nacionais do que importados mas atualmente o pescador é cada vez mais
exigente e penso que por vezes prefere comprar uma cana um pouco mais cara,
talvez não seja o caso, mas com qualidade superior, com garantia e assistência
vitalícia. Nós vamos marcar pela diferença. Os moldes não se estragam e se
vendermos uma cana hoje daqui a 10 anos o mesmo molde ainda estará por cá, não
nos custa nada fabricar um elemento de um modelo antigo, queremos é garantir ao
pescador segurança no produto que está a pescar.
Mundo da Pesca – Então quando é que os pescadores nacionais
poderão encontrar estas canas nas lojas?
Jorge Moura – Neste momento temos a previsão de chegada para
meados deste ano, por isso as primeiras canas chegarão às lojas apenas depois
do verão. Não nos queremos precipitar por isso vamos fazer vários testes a
todos os modelos antes de irem para o mercado.
Mundo da Pesca – As linhas de pesca vão ser também uma
realidade. Fale-nos um pouco sobre isso…
Jorge Moura– Sim é verdade, incluímos também na candidatura
máquinas de bobinagem de fio. A ideia da Byfish é apenas produzir artigos
feitos em Portugal mas obviamente que não iremos montar uma fábrica de linhas
mas sim bobinar os fios nacionais. Teremos como principal parceiro nesta secção
a prestigiada Filkemp que nos irá fornecer todas as suas linhas de grande
qualidade. Certamente é uma das melhores fábricas do Mundo, por isso irá encaixar
perfeitamente neste projeto, junto dos produtos que qualidade que queremos
apresentar ao mercado.
Mundo da Pesca – Quais os objetivos a curto e médio prazo da
Byfish? Apenas o mercado nacional ou também o mercado estrangeiro?
Jorge Moura– Com a produção atual já temos alguns clientes
nacionais em todas as áreas; internacionalmente estamos a exportar boias e
sacos, mas a curto e médio prazo - e com todas as secções de produção prontas
-, queremos expandir mais para fora da Europa. Já estamos em negociações no
continente africano que são mercados em crescimento bastante elevado. Somos um
país tradicionalmente conhecido pela pesca e o que a Byfish quer é mostrar ao
mundo que Portugal além de pescadores também produz esses artigos com muita
qualidade.